Jornalista e contador por formação e professor por missão. É assim que podemos definir Arlindo Corrêa da Silva, um homem que sonhava em transformar o mundo com a educação.
No mês em que o dia do professor é celebrado, a vice-presidente do Ramacrisna, Solange Bottaro, faz uma homenagem ao responsável pelas mais de seis décadas de trabalho do Instituto.
“Educação é oportunidade”
Nascido em 1910, em Campina Grande (PB), o jornalista Arlindo chegou a Minas Gerais na década de 1940. E, nessa época, já tinha o sonho de mudar a realidade de milhares de crianças.
Em 1950, o mestre começou a construir o que viria a se tornar o Instituto Ramacrisna.
Como um homem à frente do seu tempo, ele acreditava na força da educação na vida das crianças. Isso quando o papel da educação nem era amplamente debatido.
“Ele sempre dizia que dar o alimento era fundamental, mas só ajudava naquele momento. Por outro lado, dar educação é dar a oportunidade”, relata Solange.
O professor Arlindo acreditava que, ao levar educação para crianças em situação de vulnerabilidade social, era possível formar o caráter e dar uma nova perspectiva de vida. E, por fim, mudar a vida de crianças, de famílias e de toda a comunidade.
Hoje, essa visão guia o trabalho do Instituto em 13 cidades da região metropolitana de Belo Horizonte.
Orador nato e professor brilhante
Inicialmente, o Instituto Ramacrisna era um internato, que recebia meninos de diversas cidades do interior.
Até que, com o passar dos anos, a comunidade começou a crescer e, com ela, o número de pessoas em vulnerabilidade social. Dessa forma, as crianças da região passaram a ser acolhidas também.
Em 1992, o internato chegou ao fim. Nessa época, o Instituto Ramacrisna se dedicava à formação de meninos e meninas. E, a partir de 1995, começou o trabalho de profissionalização dos jovens.
Como um homem que amava as palavras, o professor lia vários livros ao mesmo tempo – sempre compartilhando as histórias com os alunos. Mas só isso não bastava.
Então, surgiu a Biblioteca, que hoje leva o seu nome. “Ele dizia que era fundamental que essas crianças tivessem acesso aos livros. Que a leitura seria uma semente que elas iam levar para a vida toda”, destaca Solange.
Hoje, a Biblioteca conta com um acervo de mais de 9 mil livros disponíveis para empréstimos. Recentemente, o espaço passou por obras para atender ainda melhor a comunidade.
Mas ele não gostava só de ler histórias. Ele sabia como ninguém usar as palavras. E, quando falava, prendia atenção de adultos, idosos e crianças.
“Quando o professor Arlindo ia dar palestras, ele levava um papelzinho no bolso com poucas palavras e falava por horas. E ninguém saía do lugar. Da mesma forma, ele sentava com as crianças, escutava e prendia a atenção delas de uma forma inigualável”, lembra Solange.
Dedicação até o fim da vida
Até o dia da sua partida, o professor Arlindo se dedicou ao trabalho com o Instituto. Solange conta que, na antevéspera do falecimento, tinha ido com o mestre ao hospital para a realização de exames.
Chegando lá, ele parou em frente à uma sala com um computador – uma grande novidade da época. E, então, disse: “É isso que vocês querem providenciar para o Ramacrisna? Então, vou providenciar”.
Em seguida, poucos dias após sua morte, as máquinas foram entregues no Instituto.
Além disso, ele também se preocupou com a continuidade do seu trabalho. Por isso, convidou 25 pessoas para integrarem o Conselho do Instituto. Esse grupo é responsável por decidir ações e acompanhar o trabalho do Ramacrisna.
Legado
O fruto desse esforço é o grande número de prêmios, convites de parcerias e o brilho no olhar de cada integrante da equipe. O investimento em gestão e na qualidade do trabalho, que começou com o professor Arlindo, segue até hoje.
Antes da pandemia, mais de 1000 crianças e jovens passavam pelo Instituto Ramacrisna toda semana e esperamos que no próximo ano, possamos voltar à normalidade. Além disso, o trabalho é feito por um grupo de pessoas com o mesmo propósito do professor: democratizar a educação.
Mas não para por aí: novos projetos estão sendo desenvolvidos, como o Fab Lab e o Meninas em Rede, apoiado pelo Criança Esperança.
“Eu acredito que ele poderia ter sonhado que o Ramacrisna iria mudar a vida de muita gente, mas não nesse nível. Acho que ele estaria orgulhoso e diria que nós conseguimos o que ele sonhou e muito mais”, finaliza Solange.
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