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25 de janeiro de 2022

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Como democratizar o acesso à educação de qualidade?

Ter acesso à educação de qualidade é um direito de todos os brasileiros, de acordo com os artigos da Constituição. Mas, na realidade, muitos alunos não contam com a estrutura necessária para desenvolver os estudos.

De acordo com indicadores educacionais, os estudantes de escolas públicas têm desempenho pior que os de instituições particulares. Da mesma forma, o ensino nas zonas rurais fica abaixo do das áreas urbanas. Mesmo em uma mesma cidade, há diferenças entre as escolas: as localizadas em áreas nobres se saem melhor do que as que ficam nas periferias.

Confira alguns dados sobre a educação brasileira por etapa de ensino e os desafios para democratizar a educação de qualidade.

Educação infantil

Essa etapa vai de 0 a 5 anos de idade e inclui a passagem pelas creches e pela pré-escola. Por ser uma fase da vida extremamente importante para a socialização e desenvolvimento cognitivo e motor, o Plano Nacional de Educação (PNE) estabeleceu como meta que, até 2024, metade das crianças com até 3 anos frequentem as creches e todas as que têm entre 4 e 5 anos estejam matriculadas na escola

De acordo com dados do Anuário da Educação Básica divulgado em 2021, o acesso às creches chegou a 58,4% das crianças entre 0 e 3 anos. Mas as desigualdades já começam nessa etapa de ensino: enquanto 54,3% das crianças residentes dos domicílios mais ricos estavam matriculadas, apenas 27,8% das que vieram de lares mais pobres frequentavam as creches. Entre os residentes da zona rural, somente 20,4% estavam matriculados.

Na pré-escola, a porcentagem de matrículas chegou a 94,1%. Diferente do que acontece nas creches, as diferenças de acordo com raça/cor, renda e localidade são menores. Ou seja, está mais próxima de alcançar a democratização.

Ensino Fundamental

Podemos dividir o ensino fundamental em duas etapas: os anos iniciais e os finais. Nos primeiros anos, as crianças aprendem a ler e escrever, interpretar textos e a realizar cálculos matemáticos simples, por exemplo.

Nos anos finais, elas já devem ser capazes de interpretar e escrever textos longos e desenvolver cálculos matemáticos mais complexos, entre outros.

Nessa etapa, o número de matriculados entre 6 e 16 anos chega a 98%, valor próximo dos 100% previstos na meta pelo PNE. Em números absolutos, 158.888 brasileiros entre 6 e 16 anos estão fora da escola.

Da mesma forma, o texto também determina que 95% dos alunos concluam essa etapa na idade correta. Porém, o cumprimento dessa meta ainda não está próximo da realidade. 

Segundo o Anuário, o índice de conclusão do ensino fundamental até os 16 anos é de 82,4%. Esse fenômeno é chamado distorção idade-série. Ele é causado principalmente pelas desigualdades constatadas tanto de renda, como de raça/cor. A perspectiva é que, nos próximos anos, o quadro piore, por conta das dificuldades impostas pela pandemia. 

Distantes da educação de qualidade

Outro problema é o baixo desempenho de aprendizagem dos alunos. O Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB) analisa a proficiência dos estudantes nos anos iniciais e finais do ensino fundamental. Para isso, utiliza uma escala de 0 a 8, em que o 0 é o nível mais básico e o 8 mais complexo, e uma nota que varia entre 0 e 1000.

Apenas a título de comparação, veja a diferença de proficiência em língua portuguesa no 2º e no 9º ano do ensino fundamental:

Gráfico - nível de proficiência em língua portuguesa dos alunos do ensino fundamental - fonte: SAEB 2021 (dados referentes a 2019)

Na última edição com resultados divulgados, referentes a 2019, 4,62% dos alunos do 2º ano ficaram no nível 0. No 1, estão 4,22% dos estudantes, ao passo que no 2 estão 6,72%. 11,9% dos encontram-se no nível 3 e 17,8% no 4. A maioria dos estudantes alcançou os níveis 5 e 6 da escala, totalizando 39,94%. O nível 7 foi alcançado por 9,74% dos estudantes e o nível 8 por apenas 5,04%. A nota média do país foi de 750.

No 9º ano, os números são bem mais baixos: 14,02% estão no nível 0; 11,62%, no nível 1. No nível 2, encontram-se 15,17% dos alunos. Os níveis 3 e 4 concentram a maior parte dos estudantes, totalizando 35,24%. Por outro lado, apenas 10,24% dos alunos estão nos níveis 6, 7 e 8. Além disso, a média do país foi de 260

Em ambas as séries, escolas rurais apresentaram resultados abaixo das instituições urbanas.

A partir desses dados, podemos inferir que não apenas há uma diferença nos níveis de aprendizado dentro de cada série, como também há uma queda brusca nos resultados do 2º para o 9º ano

Então, quando olhamos para esses números, percebemos como estamos longe de alcançar uma educação de qualidade. E que os problemas enfrentados no ensino médio e a falta de acesso à educação superior têm origem, principalmente, no ensino fundamental.

Por isso, desde os anos iniciais é preciso criar estratégias para incentivar e melhorar o aprendizado dos alunos.

Como levar a educação de qualidade para o ensino fundamental? 

Quando o assunto é melhorar a educação, uma das principais bandeiras é aumentar o investimento. Mas, ao contrário do esperado, o Brasil reduziu os recursos para a educação básica.

De acordo com o Ministério da Educação, foram utilizados R$32,5 bilhões na educação básica em 2020, que inclui o ensino fundamental e o médio. Em 2021, o total caiu para cerca de R$25 bilhões. Os dados são do Painel do Orçamento Federal.

Outra estratégia é investir na capacitação dos professores e outros profissionais da educação. Atualmente, governos municipais, estaduais e federais têm criado programas nessa área.

Como o Terceiro Setor atua

Além disso, o Terceiro Setor tem um papel fundamental para o acompanhamento e incentivo ao aprendizado. No Instituto Ramacrisna, existem projetos voltados para os alunos dessa faixa etária. 

Um deles é o Centro de Apoio Educacional Ramacrisna (CAER). Nesse projeto, as crianças recebem almoço e lanche diariamente, material escolar e vestuário. O objetivo é incentivar que elas se mantenham frequentes na escola, diminuindo a evasão escolar e o trabalho infantil. Para participar do CAER, as crianças devem estar matriculadas e frequentando a escola pública. Como resultado, o nível de escolaridade de crianças e adolescentes aumentou. 

No CAER, as crianças participam de diversas oficinas que acontecem em período complementar às aulas do ensino regular. As oficinas ampliam os horizontes e abrem as portas de um mundo mais igualitário e justo. Conheça essas atividades:

a) Atividades esportivas (futsal, futebol society, peteca e vôlei)

Ajudam a promover a atividade física e o lazer, proporcionando saúde e bem-estar. Além disso, o esporte favorece o desenvolvimento cognitivo e motor

Essas práticas também envolvem ações pedagógicas, lúdicas e culturais, que ajudam na formação de valores cidadãos. Os alunos também entendem a importância do diálogo para resolver conflitos. 

b) Judô

A arte marcial ajuda a desenvolver técnicas de defesa pessoal e a fortalecer o corpo e a mente de forma integrada. A proposta dessa atividade é desenvolver não somente as técnicas dessa modalidade esportiva, mas contribuir para o desenvolvimento social e humano, formando faixas pretas dentro e fora do tatame.

c) Xadrez

O jogo de tabuleiro é uma carta na manga para a educação de qualidade. Isso porque o aprendizado e a prática do xadrez não são apenas uma opção de lazer e cultura, mas também uma maneira de desenvolver capacidades fundamentais no desenvolvimento das crianças e jovens. 

O xadrez tem contribuição direta para a melhoria do poder de concentração e do raciocínio lógico. Além disso, ajuda a desenvolver estratégias para propor soluções inovadoras. Também na iniciativa para a tomada de decisões e na persistência.

d) Balé

A prática da dança clássica não se trata apenas de movimentos corporais, mas também serve como porta de entrada para que as crianças e os jovens conheçam outras expressões artísticas e até história.

O balé ajuda também a melhorar a coordenação motora, a concentração, a flexibilidade, as noções de espaço e de localização, a expressão e a memória. Além disso, é poderoso na correção de postura e no desenvolvimento intelectual, na autoestima, no equilíbrio e nos reflexos.

e) Instrumentos musicais (violão e bateria)

O contato com os instrumentos ajudam a despertar o gosto musical e a conhecer diversos tipos de música. Também ajuda no trabalho coletivo, além de desenvolver a concentração, a criatividade e o raciocínio lógico.

Espaço de inovação

Além das atividades do CAER, o Ramacrisna investe em projetos de tecnologia e inovação, levando novas possibilidades para as salas de aula. Essas ações acontecem no Espaço de Inovação. Para participar, os alunos também devem estar matriculados e frequentando escolas públicas.

Nesse projeto, crianças e adolescentes têm contato com equipamentos de última geração. Dessa forma, os estudantes aprendem noções de tecnologia e informática e recebem um incentivo para fixar os conteúdos da escola

Conheça as atividades desse projeto:

  • oficina de robótica educacional – nela, os alunos têm a oportunidade de inventar, programar, montar e movimentar um robozinho. A atividade ajuda no raciocínio lógico, no trabalho em equipe, no compartilhamento de dados e na interdisciplinaridade. Além disso, as noções de programação serão importantes quando entrarem no mercado de trabalho; 
  • óculos de realidade virtual – possibilita aos alunos a interação com objetos e cenários tridimensionais. Com essa tecnologia, o aluno consegue aproximar o conteúdo da aprendizagem para sua realidade;
  • impressora 3D permite que crianças e adolescentes façam trabalhos de modelagem e trabalhem na linguagem digital. Além disso, o contato com a impressora e a tecnologia que envolve a modelagem 3D promove atividades que estimulam a colaboração, a criatividade e a troca entre os estudantes;
  • mesa alfabetizadora digital – composta por blocos coloridos que são encaixados em um painel eletrônico. A mesa ajuda com que os alunos se familiarizem com a linguagem escrita. Dessa forma, as crianças aprendem a reconhecer o alfabeto, a construir palavras, a encontrar significados, a descobrir acentos e a interpretar textos. Além disso, auxilia os alunos em matemática e contém outras atividades, como fábulas, provérbios, cantigas de roda e trava-línguas, por exemplo;
  • lousa digital – tem acesso à internet. Dessa forma, permite que os alunos, moradores de área rural, tenham maior contato com a tecnologia e ampliem seu conhecimento de mundo;  
  • informática educacional – as crianças utilizam diversos softwares de computador, o que amplia suas possibilidades no mercado de trabalho. Assim, o aprendizado é feito de forma lúdica, ampliando a capacidade inventiva e recreativa dos alunos. Além disso, ajuda no enriquecimento do conteúdo e nos processos didáticos. Os alunos também têm acesso a jogos de videogame, que os desafiam a avaliar, organizar, priorizar informações e baseado nelas, tomar decisões estratégicas em curto e longo prazo.

Incentivo à leitura para uma educação de qualidade

Ter contato com a leitura desde a infância é um fator poderoso para garantir uma educação de qualidade. No Instituto Ramacrisna, contamos com uma biblioteca de quase 200m² e um acervo de mais de 9 mil livros de literatura infanto-juvenil e adulto.

Além de atender os alunos dos projetos do Instituto, os funcionários, a comunidade e os jovens de 13 municípios da região metropolitana de Belo Horizonte podem se beneficiar dos livros da biblioteca. 

Vale destacar que a biblioteca também conta com vários projetos itinerantes de incentivo à leitura. Além de usar todo espaço do Instituto, estimulando a prática da leitura agradável, confortável e prazerosa, em jardins, gramados, debaixo das árvores ou nos quiosques.

Dentro do espaço, ocorrem contações de histórias e outras atividades que reúnem diversão e leitura. Além disso, na Ludoteca, os alunos encontram diferentes jogos de tabuleiros, para estimular várias habilidades e competências dos leitores, além de proporcionar momentos de socialização e interação entre eles.

Apesar de boa parte das atividades estarem voltadas para as crianças, a biblioteca contém exemplares para todas as idades, proporcionando benefícios para todas as etapas de ensino.

Sexta Literária

Toda semana, os alunos recebem um livro em uma bolsa feita em material reciclado para transportar o exemplar em segurança até sua casa. A intenção é estimular a leitura no ambiente familiar

A criança é livre para escolher os livros, incluindo opções para outros membros da família. O prazo do empréstimo é de uma semana. 

Mala de Leitura

O projeto busca incentivar a leitura nas instituições que não possuem nenhum tipo de acervo, como escolas públicas, creches comunitárias e Unidades Básicas de Saúde, por exemplo.

A Mala comporta cerca de 40 livros e se transforma em uma “estante expositora” quando é aberta, já que a maioria das instituições atendidas também não conta com um espaço adequado para a exposição dos livros. 

A entrega da Mala é marcada por festa, com apresentação de peça teatral baseada em livros da estante. Os livros são renovados mensalmente. Desde a criação do projeto, já foram doados quase mil livros que beneficiaram mais de 5 mil alunos.

Ensino médio

Agora que já falamos de estratégias para a melhoria do aprendizado na educação fundamental, vamos nos concentrar na realidade do ensino médio

Essa é a etapa mais crítica e distante de uma educação de qualidade. Isso porque enfrenta desafios como a evasão escolar e a distorção série-idade, por exemplo. 

Para se ter uma ideia, de acordo com o Anuário da Educação, 94,5% dos jovens entre 15 e 17 anos estão matriculados na escola. Mas isso não significa que eles estão frequentando a série correspondente à idade. Apenas 75,4% dos adolescentes estão no ensino médio. No total, quase 500 mil não estão matriculados em nenhuma série.

Esta também é a etapa em que as desigualdades ficam ainda mais fortes: entre os mais ricos, o índice de jovens matriculados é de 93,5%; enquanto apenas 70,5% dos jovens mais pobres têm acesso ao Ensino Médio. 

A situação entre os jovens que concluem o ensino médio é ainda mais distante aos 19 anos: 92,6% dos adolescentes com maior renda contra 58,8% dos mais pobres

Uma das razões para essa diferença é que muitos desses jovens precisam contribuir para a renda da família. Então, abrem mão dos estudos para priorizar o trabalho. O problema é que, muitas vezes, o adolescente que tem que deixar a escola para trabalhar não consegue uma boa colocação no mercado de trabalho.

Ações para o Ensino Médio

Para ajudar a contornar a situação, o Instituto Ramacrisna conta com cursos profissionalizantes para jovens e adultos em vulnerabilidade social. É o caso do Programa de Incentivo à Aprendizagem de Minas Gerais (Descubra!)

O projeto tem o objetivo de promover educação de qualidade para adolescentes e jovens entre 14 e 21 anos que estejam cumprindo medidas socioeducativas ou em acolhimento institucional ou que tenham sido resgatados de situação de exploração de trabalho infantil.

O Descubra! é realizado em parceria com o Ministério Público do Trabalho e conta com turmas em Belo Horizonte. Os alunos participam de aulas teóricas e práticas no curso de audiovisual, desenvolvendo novas habilidades e descobrindo aptidões. 

Além disso, os alunos também contam com atividades complementares, como oficinas de robótica, aulas de xadrez e de programação e tarefas na impressora 3D.

Por fim, os adolescentes e jovens contam com palestras de psicólogos, assistentes sociais e ex-alunos do projeto. O objetivo é que eles se sintam acolhidos e possam se motivar a partir de outras experiências.

Adolescente Aprendiz

Para se tornar um jovem aprendiz, é preciso ter entre 14 e 23 anos e frequentar o ensino fundamental ou o médio. Além disso, o baixo desempenho escolar é uma das justificativas para o fim do contrato de aprendizagem. 

Ou seja, é uma forma de garantir que o adolescente vá bem na escola, ao mesmo tempo em que recebe uma remuneração pelo serviço prestado. Dessa forma, o aprendiz pode conciliar os estudos e ainda contribuir para a renda da família.

O Instituto Ramacrisna é credenciado para o treinamento dos aprendizes. O programa Adolescente Aprendiz existe desde 2005 e já capacitou mais de 3.600 jovens de 13 cidades da RMBH.

O projeto começa com uma pré-seleção de adolescentes de acordo com as características da vaga da empresa parceira. Após a contratação, o Ramacrisna é responsável pelas aulas teóricas e pela avaliação do desempenho do aprendiz. O adolescente participa das atividades práticas na empresa 4 dias da semana e 1 dia no Instituto Ramacrisna.

Além disso, o Instituto conta com o projeto Jovens de Futuro. Trata-se de um curso preparatório para o programa de aprendizagem. O projeto recebe adolescentes entre 14 e 20 anos matriculados no 9º ano do ensino fundamental ou no ensino médio. Lá, eles participam de um curso com carga horária de 80 horas e aprendem conceitos importantes para dar os primeiros passos no mercado de trabalho.

Durante as aulas, eles recebem lições de como falar em público, participar de entrevistas de trabalho, lições de ética e dicas de relacionamento interpessoal e de como deve ser o atendimento ao cliente. Além disso, os adolescentes podem ser encaminhados para vagas e outros processos seletivos para aprendizes.

Faça sua parte para promover a educação de qualidade no Brasil. Faça sua doação para um de nossos projetos e contrate um adolescente aprendiz.  

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