As ações de combate às drogas incluem ações educativas sobre o uso de entorpecentes, redução de danos e novas opções de emprego e lazer para os jovens.
Cerca de 275 milhões de pessoas usam drogas no mundo, enquanto mais de 36 milhões sofrem de transtornos associados ao uso de psicotrópicos, de acordo com o Relatório Mundial sobre Drogas 2021. Segundo a pesquisa, cerca de 5,5% da população entre 15 e 64 anos já usou drogas pelo menos uma vez.
De acordo com dados do Centro de Referência Estadual em Álcool e Drogas, a maioria dos quadros de dependência química se inicia ainda na juventude. Existem diversas substâncias psicoativas que podem alterar ou danificar o desenvolvimento cerebral na adolescência. Elas alteram a função dos neurotransmissores, que permitem a comunicação com os nervos. Em consequência, a percepção da pessoa também é modificada. O hábito do uso acaba por afetar o pensamento, raciocínio e a consciência desenvolvidos, podendo permanecer ao longo da vida de uma pessoa.
No último dia 24/6, foi comemorado o Dia Internacional contra o Abuso e Tráfico Ilícito de Drogas. A data foi criada para conscientizar a população global sobre essa temática, enfatizando a necessidade de combater os problemas sociais criados pelas drogas ilícitas, além de planejar ações de combate à dependência química e o tráfico de drogas.
Atualmente o uso e abuso de álcool e outras drogas constituem um dos mais importantes problemas de saúde pública no mundo, considerando-se a magnitude e a diversidade de aspectos envolvidos.
Por isso, o assunto é importante e a atuação dos nossos colaboradores se torna essencial não apenas para as ações de combate às drogas, mas também para a redução de danos e conscientização dos casos.
A psicóloga e instrutora do projeto Descubra, que atua com adolescentes em medidas socioeducativas, Flávia Martins relata, a seguir, como o assunto é abordado no projeto. Confira.
Combate às drogas e redução de danos
“Hoje trabalhamos com os jovens um conjunto de práticas chamada redução de danos, que são estratégias para reduzir os danos associados ao uso de drogas psicoativas. Ou seja, o foco é na prevenção de danos ao invés de ser na prevenção do uso de drogas, bem como trabalhar com as pessoas que seguem usando as drogas”, explica Flávia.
À primeira vista, pode parecer que a redução de danos estimula o uso de psicotrópicos, mas não é bem assim. Ela visa reduzir o consumo como um todo. Baseando-se na compreensão de que diversas pessoas, apesar de muitos esforços tanto para prevenir quanto interromper o uso contínuo, ainda não possuem informações e acompanhamento adequado, para manter as pessoas seguras e saudáveis para um tratamento eficaz.
Flávia acrescenta, ainda, que as ações de combate às drogas começam por criar um lugar seguro, em que o jovem possa manifestar seus desejos. “Aqui no Instituto Ramacrisna, desde o início da formação, esse tema é tratado com respeito e de forma que todas as pessoas consigam estabelecer vínculos para trazer suas demandas. Ou seja, deixamos o espaço aberto para acolher os jovens e também compartilhar informações com intuito de trazer reflexões acerca dos danos causados à saúde física, mental e no desenvolvimento de cada adolescente”, aponta.
Ela também destaca que esse processo tem permitido que os adolescentes se enxerguem enquanto sujeitos, considerando a singularidade de cada um, e não apenas nas consequências punitivas. “O resultado tem chegado através do cuidado com integridade física, respeito, busca por profissionalização, demandas por necessidade de conviver em outros espaços mais saudáveis, incluindo o retorno para a escola”, afirma.
Hoje, a demanda sobre o tema parte de rodas de conversas, que nem sempre são programadas, mas aparecem de acordo com uma demanda diária dentro de sala, ou através de acompanhamento individual. “São nesses momentos que a escuta qualificada é importante para trazer acolhimento e intervenções pontuais naquilo que for necessário. Além das ações realizadas diretamente com os jovens, identificamos as demandas necessárias para encaminhamento a rede de proteção, saúde e educação para garantir que os jovens sejam atendidos em todas as suas especificidades”, conclui.
Pensar no futuro
Um dos participantes do projeto Descubra, MS, de 18 anos, contou como as ações de combate às drogas no Ramacrisna têm ampliado suas possibilidades para o futuro. Leia o depoimento:
“Foi uma oportunidade profissional e também de melhorar algumas dificuldades. Têm sido importantes as atividades dinâmicas para refletir sobre meu futuro, minha carreira e as possibilidades. E, aos poucos, tenho conseguido ver algumas oportunidades: recentemente, ganhei o segundo lugar do Concurso Cultural Jovem Aprendiz e fiquei muito feliz”.
“No início do curso no Instituto Ramacrisna, eu usava muito cigarro e maconha. Depois que a instrutora Flávia começou a conversar conosco sobre o nosso corpo e saúde, comecei a refletir bastante. Então, comecei a reduzir o uso do cigarro, mas posso dizer que com a maconha tem sido difícil, mas aos poucos estou conseguindo. Portanto, antes eu tinha o hábito de usar no horário de lanche, e já tem um tempo que não estou usando e não tenho ficado mais ansioso”.
Já VGF, de 18 anos, conta que ainda está no processo de redução de danos. Mas que a vontade de mudar veio após seu contato com o Ramacrisna.
”Para mim tem sido difícil reduzir o uso de entorpecentes, porque isso mexe muito com o organismo e a pessoa acaba não conseguindo ficar sem. Mas tenho aprendido que cuidar da alimentação, evitar os lugares que frequentamos e que podem favorecer o uso é uma forma de não usar, e para quem quer é uma grande iniciativa. Hoje, percebo que graças ao Programa Descubra e o Instituto Ramacrisna, comecei a ter vontade de parar e preservar a minha saúde, coisas que antes eu não pensava, inclusive antes eu não “botava fé” que isso iria funcionar, e agora estou me esforçando pra ser melhor”.
Sobre o projeto Descubra
O Programa de Incentivo à Aprendizagem de Minas Gerais – Descubra! promove o acesso de adolescentes em condição de vulnerabilidade social, a programas de aprendizagem e a cursos de qualificação profissional.
O foco da iniciativa é promover educação para adolescentes e jovens entre 14 e 21 anos que estejam cumprindo medidas socioeducativas, em acolhimento institucional ou tenham sido resgatados de situação de exploração de trabalho infantil.
Além das matérias obrigatórias, o projeto desenvolvido pelo Ramacrisna tem como diferencial oferecer atividades complementares como oficinas de robótica, aula de xadrez, de programação e atividades na impressora 3D.
Os participantes também assistem a palestras com psicólogos, assistente social e ex-alunos. O projeto Descubra tem uma carga horária de 800 horas e duração de 12 meses.
Os recursos para o projeto vem de multas trabalhistas. Mas sua contribuição pode ajudar ainda mais esses jovens. Doe e seja um agente de transformação.