No Brasil, existem 51 milhões de pessoas na infância e na adolescência. Desses, 31 milhões são crianças negras, segundo o Fundo Internacional de Emergência das Nações Unidas para a Infância, o UNICEF.
Em seu estudo “Por uma infância sem racismo”, a entidade aponta que 26 milhões de menores de idade brasileiros vivem em famílias pobres, sendo que 17 milhões são negros.
Além disso, entre as crianças brancas, a pobreza atinge 32,9%; entre as crianças negras, 56%. A iniquidade racial na pobreza entre crianças continua mantendo-se nos mesmos patamares: uma criança negra tem 70% mais risco de ser pobre do que uma criança branca
O UNICEF também alertou para o abandono escolar de crianças negras: dos 530 mil brasileiros de 7 a 14 anos fora da escola, 330 mil são pretos e 190 mil são brancos.
A ONU ainda abordou pontos sobre violência. Segundo o estudo realizado sobre o Índice de Homicídio na Adolescência, o risco de ser assassinado é 2,6 vezes maior para os adolescentes negros em comparação aos brancos, nas grandes e médias cidades brasileiras, com população acima de 100 mil habitantes
Por fim, no tema da exploração sexual, as vítimas desse tipo de crime, em sua grande maioria, são adolescentes entre 15 e 17 anos de idade, quase sempre negras ou indígenas.
Veja também: Como o racismo estrutural prejudica a inserção de pessoas negras no mercado de trabalho
Danos a crianças negras
Além dos dados abordados pelo UNICEF, uma pesquisa da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, apontou como o racismo tem impacto direto no desenvolvimento físico e mental de crianças negras. Os pesquisadores apontaram quatro pontos de atenção para meninos e meninas pretos:
- Corpo em estado de alerta constante: O racismo e a violência dentro da comunidade estão entre o que Harvard chama de “experiências adversas na infância”, provocando o chamado “estresse tóxico”. Isso estimula as áreas do cérebro dedicadas à resposta ao medo, à ansiedade e a reações impulsivas, podendo causar efeitos no aprendizado, comportamento, saúde física e mental;
- Mais chance de desenvolver doenças crônicas: Essa exposição ao estresse tóxico é um dos fatores que ajudam a explicar diferenças raciais na incidência de doenças crônicas. O adoecimento pela vivência do racismo é constante e se reflete na depressão, no adoecimento psíquico e nos altos números de suicídio;
- Disparidades na saúde e na educação: Com menor acesso ao sistema de saúde público, baixa renda e altas taxas de evasão escolar, o desenvolvimento de crianças negras é, em média, menor que a de crianças brancas;
- Cuidadores fragilizados e racismo indireta: Os efeitos do estresse se estendem também aos pais e responsáveis por elas e voltam a afetar as crianças indiretamente. A universidade aponta que os estudos documentaram como os estresses da discriminação no dia a dia em pais e outros cuidadores, como ser associado a estereótipos negativos, têm efeitos nocivos no comportamento desses adultos e em sua saúde mental.
Então, é preciso agir para empoderar as crianças, permitindo o acesso a serviços básicos de saúde, educação e alimentação. Além disso, é preciso de ações educativas contra o racismo e a discriminação.
Ramacrisna e o empoderamento de pessoas pretas
Uma das formas de empoderar crianças negras no Instituto é por meio do Centro de Apoio Educacional Ramacrisna (CAER). Nele, meninos e meninas participam de oficinas de lazer, esporte e cultura, além de atividades de alfabetização e reforço nas áreas de português e matemática.
Além disso, o CAER fornece alimentação, material escolar para as crianças. Para participar do projeto, é preciso que meninos e meninas estejam matriculados e frequentes no ensino regular.
Ou seja, crianças negras conseguem se manter na escola e ainda superar a insegurança alimentar e possíveis atrasos escolares. Além de desenvolverem outras atividades no contra-turno, permitindo que pais e responsáveis possam ir para o mercado de trabalho e contribuir para a renda familiar.
Mas não é só isso. No CAER, os instrutores levam temas para a formação social das crianças, como o tema do racismo e a luta pela igualdade racial, autocuidado e autoconhecimento Educando assim, as próximas gerações para o combate da discriminação.
Já na Biblioteca Professor Arlindo Corrêa da Silva, meninos e meninas podem conhecer a trajetória de grandes nomes negros da história, além de livros com protagonistas pretos que são inspiração para os pequenos. Dessa forma, aumentam a autoestima e o autoconhecimento.
Para todas as idades, o Ramacrisna recebeu no dia 17 de novembro, atividades culturais abertas ao público. As intervenções com palestra e apresentação de capoeira fazem parte do evento “Novembro Negro”, organizado pela prefeitura de Betim. Durante todo o mês, serão realizadas ações em diversos pontos da cidade, com o mote “Igualdade, solidariedade e respeito”.
Fora da infância, o Ramacrisna também trabalha para a inclusão de pessoas negras. É o caso do programa Adolescente Aprendiz e dos cursos de profissionalização que dão mais oportunidades para jovens e adultos se inserirem no mercado de trabalho.
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