Foi no Ramacrisna que Luan teve contato com o xadrez e o teatro, duas grandes paixões. Mas também foi durante a sua passagem pelo Instituto que o jovem aprendeu a compartilhar as dificuldades e superar os desafios vividos por causa da deficiência visual.
Ele tem 24 anos e mais de uma década de parceria com o Instituto, participando de diversos projetos, até se tornar um dos nossos funcionários. Por causa da retinose pigmentar, tem uma limitação visual, enxergando 75% do olho direito e menos de 20% no esquerdo. Mas isso não impediu que desenvolvesse vários talentos e competências.
Hoje, Luan aplica o que aprendeu aqui na sua carreira e quer continuar se especializando. Além disso, ele sonha em retribuir com os alunos do Instituto. Por isso, nessa edição do Por Dentro do Ramacrisna, você conhece um pouco mais dessa história.
Primeiros contatos com o Ramacrisna
“A minha história com o Ramacrisna começou antes de mim”, explica. É que seu irmão mais velho, Pablo, fez parte do Instituto durante muito tempo. Desde aluno do Centro de Apoio Educacional Ramacrisna – CAER, até professor do curso de informática.
Por ter o irmão como uma inspiração, Luan decidiu trilhar o mesmo caminho. Aos 12 anos, no CAER, Luan teve o primeiro contato direto com o Ramacrisna.
“Eu pude explorar a minha imaginação de uma forma que poucos lugares permitiam. Lembro-me de participar do grupo de teatro, eu amava atuar, e é uma paixão que ainda carrego e tenho vontade de retomar”, relata.
Além do teatro, Luan descobriu outra paixão: o xadrez. Mas não é à toa que esse se tornou o seu jogo favorito. Nas partidas, ele exercitava a mente e chegou até a vencer partidas contra o seu professor.
Mais tarde, em 2012, ingressou na Antenados Produtora. “Aprendi muito lá, fotografia, cinegrafia, jornalismo, edição de vídeo e creio que foi onde acendeu a primeira fagulha para que eu gostasse de comunicação”, lembra.
Mas não foi só isso. Foi também na sua passagem pela Antenados que ele conheceu o Emerson, que era coordenador da produtora na época e que se tornou grande amigo de Luan. “Ele foi a primeira pessoa fora da minha família com quem pude me abrir sobre a minha deficiência, falar sobre as minhas frustrações. Ele se preocupava comigo, em saber como eu estava, tentava ao máximo entender como eu enxergava e era sempre um ombro amigo. Perdi as contas de quantas vezes desabafei com ele”, afirma.
Aceitação da deficiência
Mas não foi só o Emerson que ajudou o Luan a entender sua deficiência visual. Ele também relembra um episódio com a professora Nívia Ribeiro e como essa conversa mudou a sua vida.
Ele lembra que a professora de português explicou o significado da palavra deficiente. Ela também deixou claro que a visão de Luan não era eficiente, mas que o aluno era extremamente capaz. “Eu não sei se foi a abordagem direta, porém, amável dela que me cativou, mas aquilo mudou minha vida, ao não aceitar o que de fato eu era, eu me puxava para baixo e ela me fez encarar isso de uma forma diferente”, conta.
Outra grande amiga é a Suelen, sua parceira na Antenados. Era ela que, durante as exposições e festivais, por exemplo, o guiava e o ajudava nos ambientes muito escuros – onde tem maior dificuldade para enxergar.
“Sem eu dizer uma só palavra, ela entrelaçava sua mão na minha e me guiava, não de uma forma que me fazia me sentir pequeno, mas igual. Ela se tornou uma irmã para mim. Hoje, eu penso na quantidade de anjos que a Ramacrisna colocou na minha vida”, afirma.
Enfrentando preconceitos
Foi também na sua passagem pelo Ramacrisna que Luan aprendeu que superar suas dificuldades era a melhor forma de enfrentar o preconceito.
Por exemplo, na sua primeira aula de informática, ele teve problemas para conseguir digitar o nome, o que gerou piadas entre os colegas e o deixou frustrado.
Mas a professora começou a dar mais atenção para o aluno, com mais tarefas. Aos poucos, Luan começou a acompanhar a matéria e a ficar muito bom nela. Resultado: no fim do ano, ele ajudava a ensinar outros alunos e desenvolveu a capacidade de digitar sem olhar para o teclado.
“Acho que foi a primeira vez que me adaptei e descobri que embora minha visão me limitasse, havia outras formas. O Instituto me acolheu de uma forma que nenhum outro lugar me acolheu antes. Entretanto, gosto de pensar que eu também os ensinei a lidar com pessoas como eu”, conclui.
Jovem aprendiz
Mas a história não se resume só à superação da deficiência. Luan participou de vários projetos que ajudaram a escolher a sua carreira.
Como bolsista e aprendiz da Antenados, Luan fazia pré-produção dos trabalhos da produtora e ajudava nas aulas da Escola Multimídia. Além disso, era responsável pelas postagens do blog e cuidava de toda a parte de programação.
Da mesma forma, também foi no Ramacrisna que teve maior contato com a escrita, com a sua passagem como ajudante da biblioteca. “Foi nessa época que descobri o eBook, me apaixonei pela leitura e, hoje, estou trilhando meu caminho também como escritor”, conta.
Já em 2016, acompanhou uma turma da Liverpool Hope University, embora sem dominar o inglês. Depois, fez parte do curso de inglês do Ramacrisna com parceria com a Embaixada dos Estados Unidos em Minas Gerais e metodologia da Number One. No ano seguinte, foi o intérprete dos alunos e professores do Reino Unido.
“Lembro-me de virar noites estudando, porque eu queria agarrar aquela oportunidade com todas as minhas forças. É engraçado pensar que um ano antes eu mal sabia me apresentar em inglês e um ano depois eu era intérprete. Hoje, além da minha função como atendente no Instituto, também sou o tradutor de projetos e documentos importantes”, declara.
Próximos passos
Além de atendente e tradutor no Ramacrisna, Luan também já publicou histórias e prepara uma antologia de contos.
Ele também sonha em cursar Marketing Digital e poder trabalhar na área dentro do Instituto, como uma forma de retribuir todo o aprendizado.
“Eu não me vejo sem o Ramacrisna. O Instituto colocou verdadeiros anjos no meu caminho. O Instituto Ramacrisna é o lugar mais importante da minha vida. Eu realmente amo esse lugar e espero continuar contribuindo com ele por muitos e muitos anos!”, finaliza.
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